28/06/2010


CHUVA DE GOLS ATINGE SANTA CATARINA
porque o esporte deve ajudar os desabrigados
das enchentes do Brasil

A paixão mundial pelo esporte é pública e notória, especialmente a do brasileiro pelo futebol – tido como paixão nacional. O torcedor chega a tanto que até aquele que nunca sequer deu uma pernada em uma bola se acha no direito de dar algum "pitaco" sobre o esquema tático ideal do técnico, ou até mesmo crucificar o craque que joga mal e, se possível, expulsá-lo de campo em ato passional momentâneo.

Os brasileiros catarinenses certamente não estão excluídos desse contexto, porque sempre produziram craques ao futebol, tem hoje um time na série A do Campeonato Brasileiro e terá mais um que subirá da série B no ano que vem, além de um outro que já disputou até título nacional. Ou seja, tem futebol forte e torcida ativa, presente também, lotando os estádios e contribuindo com a lucratividade e audiência da televisão.

Há algum tempo não tínhamos um campeonato de futebol tão emocionante quanto este de 2008. Algumas rodadas atrás eram 5 equipes lutando pelo título nacional e só na penúltima afunilou para apenas 2 na disputa. Lá em baixo, brigando para não cair, cerca de 10 times – ou quase a metade do número de participantes – revezavam-se entre aqueles próximos de desabar para a 2ª divisão do próximo ano. Quer mais emoção que essas após 7 campeonatos de pontos corridos em que desde que foi criado era óbvio?

Percebi que neste ano até quem não entende patavinas de futebol estava ligado na TV torcendo e dando opiniões sobre quem será o campeão, quem leva as vagas da Libertadores e quem serão os rebaixados. Virou um belíssimo programa familiar e não só esporte de homens doentios e obcecados por futebol. Muito legal! Bom também ver vários torcedores ajudando os clubes, vestindo as equipagens dos seus preferidos. Crianças, jovens, idosos, mulheres... Isso mesmo! As mulheres presentes aos estádios, junto ao maridão diante da TV, no barzinho da esquina, e nada de ficar estressada em casa com os seus pimpolhos esperando o pai de família chegar. Melhorou, né?!

Essa participação é louvável, e a contribuição dada pelas pessoas ao futebol nem se discute! A rentabilidade das equipes só tende a crescer, a audiência das emissoras de TV a aumentar e também os estádios de futebol a lotar, como aconteceu nesse último final de semana. A torcida pelo esporte é geral e irrestrita, como se percebe. Como disse o presidente do Corinthians há alguns dias em um programa esportivo nacional: "futebol é business, é dinheiro, é negócio." Que maravilha! É bom para os clubes que obtêm altos patrocínios e para os atletas que recebem grandes salários. E bom também para quem se diverte e tem o seu lazer garantido toda semana, não é verdade?!


Dinheiro, entretenimento, saúde e paz – que combinação! Tudo muito interessante se não houver nessa mistura um ingrediente essencial chamado atitude ou ação social. De que adianta toda a participação popular e reforço dos torcedores ao futebol, como os de Santa Catarina, se não houver dos clubes e jogadores de futebol alguma mobilização de ajuda ao povo catarinense pela tragédia que hoje são acometidos? Para que tanto glamour se o retorno que se espera, pelo menos o da ação social nesse momento, não se tem?

A força do futebol brasileiro, dos seus clubes e das suas torcidas está comprovada. A chuva de gols que tanto se espera a cada semana não falta, como o milésimo tento acontecido nesse domingo, 30 de novembro. Essa é a única chuva que aguardamos sempre com muita alegria. Melhor seria se houvesse um temporal de campanhas solidárias em todos os estádios brasileiros em prol dos desabrigados do Sul. O Flamengo ensaiou uma em que o torcedor pudesse ir em massa ao último jogo do time no Maracanã e contribuísse com os catarinenses. Pelo visto não deu certo. O Goiás e o São Paulo – um dos jogos que decidirá o título nacional na próxima semana - prometem resultados mais significativos. Assim esperamos... Agora, com ingressos a 400 reais, haja oportunismo e boa vontade!

E tudo isso é pouco, muito pouco perto daquilo que o futebol pode oferecer nessas horas. Falta marketing esportivo solidário, de ação social. Falta mais que isso: falta vontade e atitude! Como fez o corintiano presidente Lula, torcedor fanático como nós, ao criar a loteria de ajuda aos clubes para sair do vermelho, do buraco, da lama... Nesse momento houve planejamento, teve estratégia para salvar os rombos nos clubes deixados por oportunistas e maus administradores travestidos de torcedores fiéis, como nós somos apaixonados por futebol, igualmente ao povo de Santa Catarina.

A luta pelo poder político no futebol é tanta que o atual presidente do Vasco, para se eleger, teve a ajuda do atual prefeito e do recém-eleito da capital fluminense, além do Governador do Rio de Janeiro, em um troca-troca geral de apoio. Já a presidência do time de maior torcida do Brasil, para mostrar que também tinha lado e força nessa disputa, apoiou o candidato derrotado à prefeitura carioca. Futebol e política 10! Solidariedade e atitude zero! Eles estão de olho somente em seus futuros políticos e nas suas realizações pessoais. E esse, olha, é só um exemplo...

Ao povo catarinense, toda a ajuda que merecem do futebol por tudo aquilo que já deram e fizeram ao esporte de maior paixão dos brasileiros. Com a bola, os grandes clubes nacionais. Assistiremos...

Marcos Baeta Mondego
* Concebido no domingo, 30.11.2008, após o programa Fantástico, da Rede Globo. 

* Postado no blog em 28.06.2010, após reportagens no Jornal Nacional e Jornal da Band sobre o drama do povo atingido pela enchente e chuva torrencial, em Pernambuco e Alagoas. Fotos aéreas das cidades nordestinas.