19/04/2011

FUTEBOL


Torcida 10 x 0 Dirigentes & Políticos

Desorganização e desrespeito marcam a Copa do Brasil no Maranhão


Domingão, tarde ensolarada de 18 de janeiro de 1981. O estádio Nhozinho Santos recebeu belo público para a estreia do Sampaio Correa no Campeonato Brasileiro daquele ano contra o Itabaiana-SE. O time maranhense era bom e tinha no lateral direito Terezo sua grande referência. O jogador chegou a ser lembrado para a Seleção Brasileira, do exigente técnico Telê Santana, para a reserva do excepcional Leandro, do Flamengo-RJ.

A equipe “boliviana” escalada para aquele dia era: Marcial, Terezo, Darci, Darci Munique e Jair; Rosclin, Magela, Toninho e Zé Ivan; Cabecinha e Bimbinha, sob o comando do experiente técnico Otacir Viana. Essa equipe base fez história com uma das melhores campanhas do tricolor maranhense no campeonato nacional.

No início da adolescência, segui a pé com uns amigos do bairro onde morava até à Vila Passos, subindo a rua Catulo da Paixão Cearense e já com os ingressos nas mãos. Entramos logo na primeira catraca de acesso ao estádio, na mesma rua, bem na esquina. Tudo tranqüilo, tudo bem fácil para chegar, adentrar e se acomodar. Era início dos anos 80. E naquela época, no “Gigante da Vila”, existiam 6 saídas e 6 entradas (incluindo o setor de cadeiras) com 4 catracas.


Eu e meus amigos ficamos, por opção, em pé no primeiro tempo, bem atrás do gol que dá fundos para a avenida Kennedy, fazendo barulho e incomodando o goleiro adversário. No intervalo, seguimos para a parte alta da arquibancada, ainda no mesmo setor do estádio. Essa mesma praça esportiva já abrigou mais de 20 mil pessoas e já contou, também em 1981, com um amistoso do Moto Club contra o excelente time do Atlético-MG, vice-campeão brasileiro de 1980. Porém, o recorde de público é de 24.865 pessoas, em 26 de março de 1980, quando o Maranhão Atlético Clube empatou com o Vasco da Gama-RJ em 0 a 0. Faz tempo, hein?!

Fim de partida. E na estreia “sampaína” no Brasileirão de 81 (que continha mais de 40 equipes nacionais), empate em 1 a 1 e só um pontinho garantido na tabela de classificação. Saímos tranquilamente pela mesma porta de entrada. Os 6 largos portões se abriram faltando 15 minutos para encerrar o jogo. E o bom público fluiu da mesma forma que chegou: sem badernas, sem brigas, sem empurrões, sem cavalaria, sem interseção da polícia, sem “corredor polonês”, sem filas e sem correr o risco de alguém se machucar. Que maravilha! E foi a minha primeira vez em um estádio de futebol.


Estamos agora em fevereiro de 2011. O Sampaio Correia estreia na Copa do Brasil contra o Sport-PE e o IAPE joga com o Atlético-MG (aquele mesmo que um dia lotou o estádio municipal de São Luís). Os jogos são na mesma semana: um na quarta-feira e o outro, quinta-feira. É grande o apelo popular, dada a carência de boas equipes jogando no Maranhão. E as nossas equipes participam hoje da 4ª divisão do Campeonato Brasileiro de futebol.

Prometi levar o meu filho de 11 anos aos jogos, mas ainda bem que não deu certo. Fiquei feliz, por isso. Ao chegar para o jogo da quarta-feira, do IAPE, time do vereador-presidente da Câmara de Vereadores da Capital, Isaías Pereirinha, dei de cara com enormes filas na rua lateral de entrada das cadeiras do estádio e na praça Catulo da Paixão Cearense, onde ficam as bilheterias.

Bom, até aí tudo bem. Estava tranqüilo com o ingresso na mão. Então era só entrar, pois faltava um pouco menos de 1 hora para o início do jogo. Percorri as filas, cheguei à primeira entrada de 4 catracas, bem da esquina da praça, e logo percebi que teria dificuldades em função da desordem, aglomeração de muitas pessoas na “boca da entrada” e insuficiência de policiamento ou seguranças de apoio para dar garantias ao andamento natural das filas quase infinitas.


Desisti dessa primeira opção, passei pela entrada das cadeiras, setor que já estava lotado, e cheguei à segunda e outra opção para entrar no estádio, no final da mesma rua que dá acesso ao mesmo local onde, anos atrás, fiquei pela primeira vez para assistir à uma partida de futebol. As filas pareciam mais tranqüilas e se movimentam lentamente. Mas a desordem e a aglomeração eram as mesmas. Não havia policiamento suficiente para dar segurança e muito menos pessoal de apoio para garantir a entrada de milhares de pessoas apaixonadas por futebol de boa qualidade e bom nível.

A bagunça era geral. E a fila ainda parou depois que o jogo já tinha iniciado. Tudo porque uma equipe médica móvel chegara atrasada e entraria por ali mesmo, no meio de uma multidão já transtornada pela espera e por perder o início da partida que já estava paga ao comprar o ingresso, pois somente bastaria acessar o local do jogo. Ali também percebi que os “furões” eram a pura “lei de Gérson” em ação. Até um jovem político maranhense “de esquerda” se infiltrou na aglomeração formada nos acessos das 2 únicas catracas disponíveis, não “dando uma carteirada” tradicional de autoridade, mas se envolvendo no empurra-empurra sem enfrentar a enorme fila como a maioria presente e paciente, torcedores como o “nobre” deputado estadual.


Enfim, assim como eu, várias pessoas conseguiram entrar no estádio depois de correr muito risco. Eu, particularmente quando dei conta, já estava com 20 minutos de jogo, ou aproximadamente 1 hora e 20 minutos de muita luta para usar um ingresso que comprara ainda pela manhã do dia do jogo em uma loja da cidade. E o jogo? Bem, o jogo era bom e os mineiros já venciam por 1 a zero, gol de Ricardinho.

Fiquei no mesmo local da primeira vez que fui ao estádio (que coincidência, que emoção). No fim do 1º tempo, como de costume e aproveitando o vai-e-vém do público, fui para a parte alta daquele mesmo gol que dá fundos para a avenida Kennedy, lembram? No decorrer do 2º tempo, percebi que onde estava e até aonde avistava, era notório que o público era excelente, mas não o suficiente para o desconforto no estádio. Na maior parte das arquibancadas, tinha muita gente sentada, inclusive onde depois fiquei. Havia muitos vazios entre as pessoas. Conclusão: o público era ideal; faltou foi ordem dos promotores do evento, que levaram muito dinheiro com o jogo e poderiam ter dado garantias e segurança ao comprador do ingresso. Ah, e falando um pouco da peleja propriamente dita: o Atlético virou o jogou para 3 a 2 após o IAPE dominar os mineiros e estar vencendo por 2 a 1, também de virada. Bom jogo, mas o time maranhense cansou, visivelmente mal preparado no aspecto físico.


Chegou então a quinta-feira, dia de Sampaio e Sport. E, mais uma vez, comprei o ingresso antecipadamente. Apesar de menor apelo popular do time pernambucano, a torcida tricolor é grande e apaixonada. Havia indícios que o público seria igual ou maior que o presente no dia anterior.

De novo, cheguei com 1 hora de antecedência. As filas imensas pareciam andar com tranqüilidade, próximo ao setor das bilheterias. Mas logo percebi que o policiamento, como na quarta-feira, era insuficiente e não havia equipe de apoio para dar segurança e fluidez ao acesso do torcedor ao estádio. Inclusive, isso deveria ser garantido, por obrigação, pelo promotor do evento e mandante do jogo, no caso o time “boliviano”. Que nada! Irresponsabilidade geral, uma vergonha!

Voltei e deixei o carro na avenida Kennedy, indo direto para a entrada do mesmo local do dia anterior. Chegando lá a confusão era maior. Para piorar, tinham 2 ambulâncias aguardando no mesmo portão. Era tanta gente que não deu para eles acessarem logo o campo. Até que uma viatura da polícia (o famoso camburão) entrou no meio da multidão, abriu caminho e levou junto a ambulância, aumentando ainda mais a confusão. Detalhe: antes de tomar tal atitude o pessoal da guarnição “deu carona” para 2 pessoas à paisana, que estavam esperando igualmente a vários outros torcedores.

Depois de muito sufoco, que SUFOCO, consegui entrar (os organizadores bem que poderiam colocar um carro de som da próxima vez nas entradas, tocando a música homônima da Alcione para distrair o público). E o jogo? Bem, o jogo já estava em andamento, com quase 25 minutos e no zero a zero.

Veio o 2º tempo e fui direto para a arquibancada que fica de frente para o setor de cadeiras, onde normalmente fica a torcida organizada do tricolor. Percebi, então, que o estádio estava com excelente lotação, mas não o suficiente para tanto sufoco para acessá-lo. Fiquei em um local tranqüilo, espaçoso entre os torcedores. E a conclusão é a mesma: desordem, desrespeito e inacessibilidade criados pelos organizadores do evento, no caso a diretoria do SCFC.


Fim de papo. Sampaio 0x0 Sport-PE. Jogo bem movimentado, com domínio parcial do time maranhense, que perdeu muitos gols e não soube aproveitar a vantagem de um jogador a mais em campo pela expulsão de um zagueiro pernambucano.

Nos jogos “fora de casa”, o IAPE levou uma goleada em Minas Gerais, dando adeus à Copa do Brasil, mas o Sampaio empatou em 1 a 1, em Recife, classificando-se para a próxima fase. Nesse mesmo dia, lembrei de escrever este texto e comecei a levantar as questões pertinentes ao seu conteúdo, sabendo que toda a confusão seria recorrente com o jogo em São Luís contra o Santo André-SP, atual vice-campeão de São Paulo, pela 2ª fase do torneio. Tinha a absoluta certeza que nada de bom, além da inesperada classificação maranhense, seria feito para o melhor tratamento ao torcedor apaixonado pelo “esporte bretão”.

Não adianta mais narrar os fatos do período antes do jogo aqui, contra os paulistas. Serei redundante, assim como foram a diretoria do Sampaio, mandante do jogo; a administradora do estádio, prefeitura de São Luís (o prefeito estava presente); e o governo do Maranhão, responsável pela segurança pública e pela Polícia Militar do estado. Os erros foram os mesmos! Os desrespeitos, idem!


E o time tricolor, jogando muita bola, sapecou 3 a zero no início do 2º tempo, mas cansou e deixou o Santo André diminuir para 3 a 2, com total influência da entrada do maranhense Célio Codó, atacante do Sampaio emprestado ao “Ramalhão”. E com o resultado, ficou a esperança da 3ª fase da Copa do Brasil em São Luís, com a presença do Palmeiras-SP no mesmo estádio, já pensaram?!

No Facebook, após o jogo do Santo André aqui, alguns comentários vieram à tona, como este de uma torcedora: “Parecia piada ontem o tratamento dado ao público do jogo, quando policiais apenas observavam a desordem”. Outro respondeu: “Olha, acho que a piada foi além... Enquanto uma fila enorme esperava pacientemente mais de 1 hora para entrar no estádio, a confusão estava formada justamente onde os policiais fizeram um ‘corredor polonês’ para por ‘ordem na casa’, enquanto outros entravam com viaturas pelo mesmo lado da confusão levando gente à paisana de carona. Produto ruim de responsabilidade do Sampaio Correa, sem ordem nem respeito, no estádio da prefeitura, sem a mínima condição estrutural e sem a segurança que a Polícia Militar deveria oferecer. E era contra o Santo André, imagina se vier o Palmeiras”. Resumido e redundante: o mesmo conteúdo que tratei desde o início neste espaço.

É fato que o Maranhão tem público apaixonado por futebol. O produto oferecido pelos clubes locais e “apoiado” pelo poder governamental que é ruim. Um dos maiores estádio do Brasil, o Castelão, por exemplo, está fechado há quase 8 anos. Em 1997, o Sampaio Correa lotou essa praça esportiva por várias vezes, jogando a 3ª divisão do Brasileiro e “levantando o caneco” de campeão. Já pensaram se os jogos fossem no “municipal”? Em 1998, a Seleção Brasileira levou uma multidão ao mesmo campo de jogo, em partida amistosa contra a extinta Iuguslávia; e no dia seguinte, foi a vez do Sampaio enfrentar o Santos-SP, pela "taça Conmebol”, torneio sul-americano, com muito mais presentes no Castelão.


Ainda sobre o “Nhozinho Santos”, vale lembrar que assim que assumiu a prefeitura de São Luís, o prefeito João Castelo, em visita ao estádio, perguntou o porquê do mesmo estar vazio para o início do campeonato maranhense. Hoje, como torcedor, respondo com algumas conclusões deste texto. Outra do prefeito: ele prometeu fechar os cantos do “municipal” para aumentar a sua capacidade. Ora (fica a indignação), se a iluminação foi feita em cima da hora, neste ano, para que o estádio recebesse esses 2 jogos da Copa do Brasil, imaginem... A mesma iluminação que nunca foi concluída, as 4 torres também não construídas, com verba federal liberada e destinada exclusivamente para essas obras, ainda na gestão anterior do prefeito Tadeu Palácio e seu secretário de esportes.

Só para fechar, fiquei triste com a quantidade de pessoas esperando à meia-noite transportes nas paradas de ônibus. Gente humilde, torcedor apaixonado por futebol, que no dia seguinte estava reclamando nos programas das emissoras de rádio AM da cidade. Vale lembrar, senhores interessados, que esse torcedor também é eleitor e deveria ser amparado com uma solicitação de alerta junto às empresas de coletivos públicos. Lanço a bola na área, agora é só marcar o gol. Só não vale entrar de cabeça com bola e tudo. Aí é demais para o torcedor!

E por tudo isso, agora vocês puderam entender porque eu gostei de não ter levado o meu filho aos jogos no Nhozinho Santos.

Marcos Baeta Mondego
Copa do Brasil, Abril de 2011.

Vejam algumas imagens que marcam e comprovam o que está escrito aqui, como esta pancadaria... http://www.youtube.com/watch?v=x0xWD7LkpD0

Ou esta confusão em um dos portões de saída...



E para dizer que não falei de futebol, os melhores momentos do jogo...