05/07/2010


ONDE SE METEU A PLEBE RUDE
* banda de punk rock de Brasília faz discretíssimo
show inédito em São Luís 

No domingo 4 de julho, a Rede Globo reprisou o filme “O Cavaleiro Didi e a Princesa Lili” (com Renato Aragão e cia.) que me inspirou este texto após acordar de uma noite de sábado de muito rock'n roll original na veia. Sim, sim... A banda Plebe Rude de Brasília - e não de São Paulo, como fizeram questão de frisar - esteve na capital se apresentando para o público maranhense que o esperava a quase 30 anos - também lembrado durante 2 ou 3 momentos do show.

Bom, quando se fala nesses detalhes logo se imagina que foi um público esplendoroso, em local aberto, pois são mais de 29 anos de espera. Afinal, a Plebe foi uma das grandes bandas brasileiras surgidas nos anos 80 que deixou marcas naquela geração e em outras seguintes - encontro até hoje jovens que curtem o som pesado dos caras. E em terra de eventos repetitivos de axé-music, pagode, forró e reggae, é um privilégio recepcionar artistas desse naipe, dessa vertente.

E o tal público que tanto aguardava a banda estava lá, devidamente mesclado, entre jovens e adultos - como os membros da banda. Isso, adultos no palco (pais e talvez já avós) com atitudes de jovens rebeldes irreverentes, mantendo e cantando as suas mensagens típicas do punk rock, ainda que escritas passados quase 30 anos de história no cenário musical brasileiro.


Quando cheguei ao local do show - um belo shopping situado em área nobre da cidade e circundado de condomínios caros e luxuosos por todos os lados - esperava ir direto para um espaço livre e cercado (tipo estacionamento) e encontrar muita gente com a minha cara (e com a cara dos caras da banda), além de jovens de estilo rebelde com tudo que tem direito: roupas pretas, tatuagens, piercings, cabeludos, pintados, essas coisas... Mas, não... O local era uma boate, também chamada de “pub”, com capacidade limitada para 800 pessoas - segundo uma das organizadoras do evento. Ela, aliás, estava feliz por ter vendido antecipadamente 500 ingressos a R$ 40,00 cada. Também revelou que os organizadores fizeram questão de não divulgar tanto na mídia, pois não queriam muita gente no evento – completou, após ser indagada pela “dona” do ponto de conveniências do shopping, que assim como fiz reclamou da divulgação. Particularmente, fiquei sabendo por acaso na sexta-feira, enquanto almoçava diante de alguns amigos que ainda choravam a derrota e desclassificação do Brasil na Copa para a Holanda por 2 a 1.

Sim, sim... O evento parecia mais uma apresentação restrita para um seleto público que tem um local para se encontrar e precisa criar formas de se divertir nele. Estava com cara de festinha que os pais dão de presente aos filhos, com a presença de um grande astro ou banda do rock nacional. Mas, logo a Plebe Rude, de punk rock, que prefere as garagens a estar nos programas de auditório da grande mídia?

Antes de continuar este texto, vejamos os significados de algumas palavras-chave que o envolve, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa:

Plebe: s. f. A gente das classes inferiores, o vulgo; populaça, gentalha; 2. Deprec. Populacho.
Rude: adj. 2 gén.adj. 2 gén. Inculto; Grosseiro; Bruto; Agreste; Tosco; Custoso de sofrer;  Áspero; Duro; Violento; Perigoso; Descortês; Ríspido; Estúpido; Ruda (interj.).
Pub (palavra inglesa): s.m. Estabelecimento onde se servem bebidas alcoolizadas, especialmente na Grã-Bretanha, e que entretanto começou a vulgarizar-se em Portugal.
Punk (palavra inglesa): coisa sem valor, prostituta, disparate (substantivo); podre, mau, sem préstimo (adjetivo).
Classe: s. f. Categoria; Qualidade; Ordem; Secção; Aula; Hist. nat. Cada uma das grandes divisões dum reino.
Monarquia: s. f. Regime político no qual o chefe do Estado é um rei ou um imperador, em geral hereditário (por opos. à república); Governo monárquico.
Súdito: adj (lat subditu) que está sujeito à jurisdição ou às ordens de um superior (autoridade eclesiástica, príncipe, soberano de um Estado etc.); que está dependente da vontade de outrem; sujeito; submetido.


O inédito e esperado (também pelos membros da banda, segundo eles) show em São Luís começou arrasador, pelo peso das músicas e pelas mensagens entre uma e outra canção. Entre a segunda e a terceira, o vocalista e líder da banda Philippe Seabra disse que “estamos a quase 30 anos esperando essa oportunidade de cantar e tocar para vocês. Boa noite, São Luís!” Na sequência, emendou: “Somos a Plebe Rude e da última vez que estivemos no estado, tocando em Imperatriz, uma família dominava o Maranhão. Esperamos que vocês tenham se livrado dela!” O seleto público não entendeu ou se fez de desentendido, não reagiu ou fez questão de não reagir à afirmação de um cara que lidera uma banda que historicamente tem atitudes subversivas, coerentes e comprometidas (palavras que o técnico Dunga adora) com o que toca e canta, não se enquadrando ao rótulo do politicamente correto e educado.

Entre jovens e já adultos “mauricinhos e patricinhas” convidados para o show, deu para encontrar alguns “bate-cabeças” à beira do palco cantando e pulando com a banda. Deu também para ver um ou dois representantes do povo plebeu na boate - esses, visivelmente vestidos com roupas rudes, típicas de gente sofrida, de plebe rude mesmo. Senti falta de gente assim, que se encaixa com as mensagens e características da banda. Dessa forma e com local mais apropriado ao estilo, talvez o sabadão fosse outro e bem melhor. 


Já no final, antes da correria dos presentes ao guichê para pagar as contas dos seus consumos, o líder da banda voltou a dizer com toda contundência, dentro do estilo característico deles, que “lá em Brasília, conseguimos tirar um VA-GA-BUN-DO do poder! A gente espera que vocês, com atitude, também consigam fazer isso!” Para mim uma afirmação impactante, forte e arrasadora, levando-se em consideração o local e os presentes ao show. Mas são palavras de quem carrega um legado musical de banda de punk rock com nome bastante apropriado.

Algum “urrruuuuuu” de reação no meio dos convidados na boate classe A? Talvez um, lá longe e bem discreto, para ninguém perceber, no meio dos primeiros “rifs” pesados de “com tanta riqueza por aí, onde é que está, cadê sua fração?! Até quando esperar a plebe ajoelhar, esperando a ajuda de Deus?!”

Link do vídeo-clip produzido em 1985 com a  música "Até Quando Esperar" completa: http://www.youtube.com/watch?v=syL3QlD9S3M


Ah... E o que tem o filme do Didi no domingo da Globo com o show da Plebe Rude no sábado em São Luís? Bom, se todos os rudes plebeus servirem aos seus governantes como reais súditos e serem agraciados pelos soberanos reis e rainhas com títulos e condecorações magistrais (como narram os lúdicos filmes monárquicos), sem palhaçada nenhuma seríamos um povo socialmente bem mais rico e feliz. Com detalhe importante: sem restrições e discriminações.

Marcos Baeta Mondego
(domingo, 04.07.2010, durante a reapresentação do programa 5a. Categoria da MTV, em meio a muitas gargalhadas)


* Plebe Rude: Banda formada nos anos 80 por Philippe Seabra, Gutje, André X e Jander Bilaphra. Em Brasília, fizeram parte da turma da Colina, integrada por outras bandas como Os Paralamas do Sucesso e Aborto Elétrico (que posteriormente deu origem ao Capital Inicial e à Legião Urbana). O estilo da banda, repleto de críticas sociais e políticas, reflete toda a cultura punk da época, porém com uma preocupação maior nas composições e elaboração dos arranjos e melodias. Por estes fatores, é considerado uma mistura do punk rock com a influência post punk inglesa e sua invasão oitentista do new wave.   
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.