25/02/2010

LULA E A INVERSÃO DE VALORES NO PAÍS

Soletrando do Caldeirão versus A Fazenda/BBB

Decepção. Talvez seja o sentimento que fica dos fatos nacionais da semana passada. Isso no meu entender, pois na visão da maioria da minha gente, dos brasileiros e brasileiras, (tenho certeza) tudo não passa de acontecimentos normais, seja na política, no esporte, na educação, na saúde, na televisão... No Brasil, a inversão, o erro e a ilegalidade são meras rotinas.

Sabadão, 15h50 minutos. Na Rede Globo, expectativa para o início de mais uma rodada do “Brasileirão de Futebol”. Pressão total no ar para que o apresentador Luciano Huck encerre o seu programa “Caldeirão” e, consequentemente, a final do quadro “Soletrando” (embate de conhecimentos de palavras da língua portuguesa entre alunos das escolas públicas de todo o país).

Um programa emocionante, disputadíssimo, com estudantes tensos, inteligentes e visivelmente preparados, envolvidos e concentrados nas perguntas do apresentador e nas respostas e comentários do professor Sérgio Nogueira. Luciano é obrigado a fazer mais um intervalo comercial. Aí, a pressão aumenta ainda mais, pois a disputa é ao vivo, e os estudantes continuam acertando tudo, incrivelmente. E só terá um vencedor se outros dois errarem a composição das palavras pedidas.

Na volta do intervalo, o apresentador realiza nova rodada de perguntas, e os representantes do Ceará e Pernambuco acertam também. Percebe-se que a direção do programa é de novo pressionada. O apresentador aproveita para comentar o atraso do encerramento do “Caldeirão” e, mais uma vez, elogia o talento e a capacidade dos concorrentes ao prêmio de R$ 100 mil reais (só 100 mil reais, pasmem!). No fim, humanamente, a vencedora ainda doa R$ 10 mil reais aos pobres e humildes estudantes vencidos. Durante a entrega do cheque-prêmio, Luciano Huck faz outro comentário de valor aos finalistas, endurecendo o jogo interno da emissora de televisão pelo tempo extrapolado e invadido do horário do futebol.

Fim do “Soletrando”, início dos jogos na Globo (patrocinadora e detentora dos direitos de transmissão junto à CBF/Clube dos 13). Entram em campo, em rede de televisão, vários atletas que sequer concluíram os ensinos fundamental e médio. O que é lastimável, pois seus pais e dirigentes esportivos não estimulam os atletas ou futuros atletas de futebol a seguir a carreira, concomitantemente aos estudos escolares. No caso, o objetivo é (foi e sempre será) somente a busca por dinheiro e sucesso, que na maioria das vezes não vêm, transformando jovens psicologicamente destruídos e famílias decepcionadas pelo fracasso. Daí para o aumento das estatísticas lamentáveis dos distúrbios e injustiças sociais existentes nesse imenso Brasil de meu Deus é um passo! E como são poucos os que se dão bem no futebol, começar do zero então...

Mas, para piorar a inversão de valores acontecida nesse fim-de-semana na Rede Globo, o que se vê na TV é a supervalorização de um futebol pobre, sem qualidade, com pouca técnica e talento, de jogadores que chegam a receber entre R$ 100 mil e R$ 500 mil por mês. Um desfile de grandes... Grandes pernas-de-pau!

É verdade: e o negócio é excelente! Os patrocínios são altíssimos e os salários significantes. Mas, no nível dos jogos que assisti no sábado à tarde, os jogadores que receberem R$ 5 mil reais mensais, no meu entender já estariam muito bem pagos. E olha que sou um apaixonado por futebol e pelo Flamengo (clube de maior torcida do mundo, que administra valores acima da verba orçamentária de 2/3 das prefeituras do Brasil – não juntas, claro). É ou não um bom negócio?! E o “meu time” ainda é o maior devedor nacional.

A coisa está tão feia que a Rede Record comprou de vez a briga no entretenimento e liderança na audiência das TVs com a Rede Globo: não satisfeita com o “Big Brother”, criou o programa de confinamento doméstico denominado “A Fazenda”, que destinará ao sobrevivente-vencedor R$ 1 milhão de reais de prêmio até a final. Na telinha, o que se vê é brigas, baixarias, desordens, brigas, pessoas falando errado, muitas brigas, humilhações, mais brigas e gente pelada que se expõe em troca de mídia e faz qualquer coisa para aparecer em rede nacional. Que o diga a “santa” Babi Xavier, que também já foi para a “roça”!

Dias vão, dias vêm... Absurdos vão e vêm... E lá dos “cafundós do Judas” ecoa a voz do atual presidente da República Federativa do Brasil supervalorizando e defendendo a ilegalidade de um ex-presidente brasileiro, outrora tido como um ranço na política nacional pelo próprio atual. É verdade! Eu ouvi várias vezes isso dito em alto e bom som. Existem vários registros, tenho certeza!

Em 1989, durante a campanha eleitoral à Presidência da República, em frente à sede do Sindicato dos Ferroviários do Maranhão, próximo ao extinto Cine Monte Castelo, estive bem próximo do candidato Luís Inácio Lula da Silva que disputava pau a pau, voto a voto com o então “caçador de marajás”, governador de Alagoas e também candidato Fernando Collor de Melo.

Uma campanha memorável, onde se conheceu um sindicalista que trabalhou, lutou e cresceu como muitos de nós gostaríamos de ter crescido, lutado e trabalhado. Exemplar! Nessa época, Lula era realmente “o cara” para mim! Foi um voto consciente, sem medo de ser feliz, de me arrepender ou decepcionar!

De lá para cá, foram várias eleições que se passaram e derrotas amargadas após coligações e apoios esdrúxulos, que não se afinavam com o seu valor e história do seu partido. Nos anos seguintes, o que se viu foi apenas um candidato Lula objetivando o seu projeto pessoal, os intentos particulares, sem pudor de mostrar que os seus atos são de político conservador e controlador, parceiro do continuísmo em prol da manutenção e sustentação do poder. Todo o passado jogado no lixo, presidente?

Chega o ano de 2002, as eleições, as possibilidades político-eleitorais, a disputa, a vitória... Enfim, conquistado o seu intento, independentemente das parcerias políticas firmadas, o eleitor brasileiro pôde reconhecer a sua história (aquela do político sindical discursando em frente ao Sindicato dos Ferroviários), dando verdadeiro VALOR àquele que se confunde com o próprio povo, ainda que esse político não dê VALOR ao passado.

Após a eleição, surgiram boatos como: assume ou não?! A instabilidade política pairou no ar e os acordos escusos foram realizados à luz do dia. O ex-presidente José Sarney comprou a briga, deu apoio com o seu grupo político ao presidente eleito e garantiu a posse e a governabilidade. Daí por diante, tudo seria possível - como está sendo!

A meu ver, na campanha política para a reeleição à presidente em 2006, Lula comprou votos na maioria das cidades pobres da nação. Senão, vejamos o caso do município que deu ao presidente da República a maior votação proporcional do país, a paupérrima Central do Maranhão, onde 97,2% dos votos válidos foram para ele. A principal renda que circula na cidade, pós anos-Lula, é do “programa social Bolsa Família”, que alimenta ainda mais o preguiçoso ao ócio. Esse projeto foi fundamental para o seu segundo mandato - isso é fato!

Sim, sou extremamente contra a concentração do capital financeiro e plenamente a favor da distribuição de renda, contudo de forma justa, com a criação de frentes de trabalho que elevem a auto-estima do povo brasileiro à produção e à participação da evolução do Brasil e que façam nossa gente se sentir verdadeiros brasileiros. Por isso, indago: porque nesses municípios não foram realizados projetos, devidamente orientados e fiscalizados pelo poder público de confiança do próprio presidente (como faz com o PAC e Bolsa Família), em que fosse valorizada a vocação produtiva de cada região? Não seria mais justo, interessante e estimulante às pessoas? Principalmente vindo do presidente que veio da base, da roça: um homem do povo, lutador, sindicalista, um trabalhador com história (outro fato), mas...

Está aí o Lula, o “nosso” presidente que bem de longe brada a sua voz em defesa da ilegalidade, da deslealdade, da injustiça, da desonra e da manutenção do mau caráter político no poder: a favor dele mesmo sobre todas as coisas!

Para o “nosso” presidente, quem mais (além do político, ex-presidente, jornalista, poeta e escritor José Sarney) está acima da lei, da Constituição Federal e do Brasil? Para o “nosso” presidente, quem mais podem cometer crimes e não serem penalizados? Para o presidente Lula (minha gente, brasileiros e brasileiras), queremos logo saber como fator de autodefesa: quem mais pode viver, agir e se eternizar como um verdadeiro Deus diante dos homens?

Segundo as nossas leis, não teríamos todos igualmente os mesmos direitos e deveres, sem exceção? Poderia eu cometer “alguns pequenos crimes” e passar impunemente por eles? Poderia eu ter a defesa do cidadão e atual presidente Luís Inácio da Silva a não pagar os impostos e as dívidas contraídas, ao participar da campanha da candidata do seu partido a prefeito de São Luís, em 2004? Poderia eu ter, na época, me negado a pagar as prestações em atraso da minha casa, financiada por um banco federal, e não perdê-la? Será que eu teria a defesa do Presidente Lula? Será que o presidente do Brasil está acima da lei para me dar o privilégio de defesa de algumas ilegalidades?... Haja Deus!

Marcos Baeta Mondego
(cidadão brasileiro e maranhense com orgulho)
São Luís, madrugada de 21 de junho de 2009.

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